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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O CRACK EM PERNAMBUCO


O crack em Pernambuco

Uma tradição secular nos países andinos despertou um monstro causador de problemas gravíssimos no contexto social da atualidade: a cocaína e seus derivados. Mascar folha de coca naqueles países do “lado espanhol” da América do Sul, mormente na Colômbia, Peru e Bolívia, tem paralelo com o hábito de tomar chimarrão nos Estados do sul brasileiro. O chá da coca também é muito apreciado, e a produção lícita movimenta a indústria cocaleira, cujo maior ícone no continente é o presidente da Bolívia, Evo Morales. Contudo, o inocente costume se transformou em tráfico de cloridrato de cocaína, extraído das folhas de coca por um processo químico complexo, vulgarmente chamado de refino de cocaína – refino da pasta-base de cocaína (PBC).

Na história da economia da cocaína, a Bolívia e o Peru dominaram a produção de pasta-base até meados dos anos 90 do século passado, enquanto a Colômbia reinava absoluta como lugar de refino da pasta-base, transformando-a em cocaína pura e pronta para consumo. O plantio de folha de coca na Colômbia, até então, era reduzido, fazendo com que os traficantes colombianos comprassem pasta-base dos cocaleiros bolivianos e peruanos para refino em laboratórios improvisados no meio da floresta amazônica colombiana.



Quando o traficante/produtor encerrava o refino nos laboratórios colombianos, apurava um resíduo do processo, ou seja, material que ainda continha certo poder alucinógeno e poderia ser vendido aos usuários de drogas mais pobres e menos esclarecidos, pois consumiriam o lixo do lixo. Da junção do resto do refino da cocaína com produtos químicos baratos e de fácil aquisição, como ácido bórico, por exemplo, nasceu o crack colombiano. Em forma compacta, sólida, transparente, quase cristalina, as pedras de crack invadiram as periferias dos centros urbanos acolhidas pelos usuários de baixa renda, moradores de rua, pequenos traficantes viciados e usuários de outras drogas em síndrome amotivacional e de abstinência.

Até 1997, em Pernambuco não havia presença de crack entre os usuários, imperava a maconha, seguida pela cocaína, nas classes alta e média, enquanto os usuários pobres consumiam maconha, cola e álcool. Pois bem, os Estados Unidos da América decidiram diminuir a produção de pasta-base na Bolívia e no Peru para sufocar o refino de cocaína na Colômbia, cuja produção de pasta-base era insignificante, como vimos. Foi implantado, então, o Plano Dignidad, naqueles dois países, em meados dos anos 1990. Os efeitos desse plano foram sentidos pelos traficantes colombianos, mas apenas momentaneamente, pois logo em seguida a Colômbia se transformou no maior plantador de folha de coca do mundo, satisfazendo suas refinarias com pasta-base nacional.

Essa é a história do aparecimento de tanta pasta-base de cocaína em Pernambuco, vinda principalmente da Bolívia. Aqui, a pasta-base é misturada a bicarbonato de sódio e aquecida, surgindo o crack pernambucano, totalmente diferente do crack advindo do refino da cocaína, mas devastador da mesma forma.
Caruaru, no agreste pernambucano, e Petrolina, no sertão próximo ao Rio São Francisco, são pólos que congregam cinturões de cidades de menor porte e já apresentam clara expansão no mercado de crack.

"São regiões onde o crack entrou nos últimos anos, e o problema não é só da área metropolitana. O conceito de epidemia é uma metáfora instigante para pensarmos nesta explosão do crack em municípios de médio e grande porte no Brasil", avalia José Luiz Ratton, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Criminalidade, Violência e Políticas Públicas de Segurança da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Em meados da década de 1990, usuários de cocaína e crack eram responsáveis por menos de um quinto da procura em serviços ambulatoriais relacionados a drogas ilícitas. Hoje eles respondem por 50% a 80% da demanda. Nos últimos anos, o crack também começou a ganhar terreno entre grupos com rendimentos mais elevados, apesar de a droga ainda ser mais comum entre as classes de baixa renda
“O crack é a droga predominante hoje, no Recife. Isso é muito preocupante porque se trata de um entorpecente de efeitos devastadores e causador de dependência.
Psiquiatras ressaltam que o usuário de crack passa por um processo gradual de degradação. Para manter o vício, alguns dependentes começam a roubar dinheiro e objetos de dentro de casa e depois podem passar a assaltar.

“É um processo crescente de degradação que acaba fazendo com que a pessoa saia de casa e passe dias na rua apenas se drogando. Fazer com que essas pessoas aceitem ser internadas e recebam o tratamento adequado é sempre uma tarefa difícil”,
A sociedade pernambucana, agora, não deve “chorar sobre o crack derramado”, mas se mobilizar para combater um verdadeiro desastre de saúde pública, dentre outras mazelas sociais que essa droga causa.

(Fonte de Pesquisa: Jornal do Comércio)

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